Vera Tavares tem 45 anos e está à frente do design da Tinta da China desde que a editora nasceu, há pouco mais de uma década. Estudou História, variante História da Arte

Vera Tavares não sabe quantas capas de livros já desenhou ao computador por mais que olhe as estantes quase cheias da sala de reuniões da Tinta da China, onde conversa com o DN sobre o seu trabalho. O nome de Vera aparece na ficha técnica à frente da direção de arte da editora e até ao início de agosto dois exemplares da coleção de viagens faziam parte exposição Novo Mundo – Visões através da Bienal Ibero-Americana de Diseño. 2008-2016, uma seleção feita pelo MUDE (Museu do Design e da Moda) de produtos e ideias oriundos da Península Ibérica e da América Latina que esteve patente no Palácio da Calheta, em Lisboa. Já tinha sido selecionada para a BID, mas, confessa, faz-lhe confusão “esta coisa dos livros expostos em museus, porque o meu gosto pelo design gráfico tem a ver com um trabalho gráfico que não sacraliza tanto os objetos”. São do quotidiano e fá-los desde 2005.

Quando Bárbara Bulhosa e Inês Hugon fundaram a Tinta da China, Vera Tavares, amiga e ex-colega de ambas no curso de História na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, desenhou o logótipo e, depois, a capa do primeiro livro editado, O Pequeno Livro do Grande Terramoto, escrito por outro amigo e ex-colega, Rui Tavares.

Esse primeiro livro “teve bastante sucesso” e “até ganhou um prémio”. Reconhece-lhe já elementos que viria a usar na coleção de viagens, como o papel colorido ou a moldura. “Tinha interesse na economia de meios e foi uma forma de criar um certo número de regras. A capa dura dá-lhe uma certa dignidade, é sempre com papéis de cor, impresso a preto, estrutura centrada, usar moldura com motivos do sítio de que trate a viagem”, dispara. Já editaram cerca de 40 títulos e tornaram-se “uma imagem de marca da Tinta da China”, aceita.

Vera Tavares, 45 anos, conta que chegou ao design, “escorregando”. “Percebi que as coisas interessavam, mas a ideia de seguir uma carreira académica não era bem uma coisa que me podia interessar. Pensei em algo ligado ao restauro, mas também não sabia desenhar assim muito bem. Fiz uns anos de desenho no AR.CO. E quando se começa a fazer outra coisa, abrem-se horizontes. Comecei a fazer coisas que não tinha planeado, ilustrações para jornais, revistas e livros escolares. Tinha um portefólio muito desigual. A certa altura surgiu um estágio, na altura em que ainda eram pagos, numa agência de publicidade, e aí aprendi imensa coisa”. Mas nunca tinha feito livros, quando Bárbara Bulhosa e Inês Hugon a convidaram para a Tinta da China. “Elas queriam entrar no mercado com uma coisa que fosse comercial, o objetivo era conquistar, não era ser uma coisa alternativa, mas ao mesmo tempo, queriam ter uma imagem diferente do que se via nas livrarias”, conta, lembrando: “O cenário era muito homogéneo em termos de capas de livros”. Isto é, uma imagem selecionada de um banco, uma letra escolhida de um catálogo de fontes. “Eu estava um bocadinho cansada [dessa fórmula]”. Na Tinta da China, “não havia muito dinheiro para comprar imagens e eu também não tinha muito interesse nisso”. Começou a usar ilustração e a desenhar as letras.

Como designer gráfica, e pelo seu percurso, reconhece que lhe faltam “conhecimentos escolares” mas tem “uma liberdade enorme”. “Eu não estava a pensar se esta letra é correta, se isto pode funcionar porque existe esta regra e o que é que os professores vão pensar. Estava muito liberta desses constrangimentos. O meu critério essencial era o meu olho.”

Fonte: DN